Quem é você na noite?

Em meio aos males
E os maus tratos
Os tratos, os maus...
E os extratos de meus hábitos

No meio de tudo que, decadentemente conservei,
Olhando o sol poente, noto que perdi dez dentes,
E partes do meu corpo, que não sei com quem deixei.

No meio do midia e da média
E da cena que não me é inétida
Chamo de vida minha amputação
E por costume, por afeição,
Joguei fora metade da medida do meu coração.

Perdendo e perdido,
Sentindo toda minha falta de sentido,
Sem senso, sem tino,
Me entrego e me intrigo

E a vida, antes presa e coagida
Me invade e me intimida
Sem pressa, fria,
Me despe e me inebria

Agora, entra em cena uma narrativa mais veloz
As moças, não acostumadas com um tom atroz
Perdoem esse lascivo poeta,
Seu alívio e seu algoz.

Nesse corpo, que era só uma casca oca,
Desatando um nó, a vida entra veloz... e entra pela boca.

Nesse corpo, que era uma morada de ninguém
Entra um turbilhão, e entra num vai-e-vem.

Nesse corpo, e espero que estejam acreditando,
Entraram o nada e Deus
E indo embora, me deixaram arfando.


Pahbst.